Juliano Kimura diz que decisões sobre identidade digital podem colocar o Brasil na vanguarda ou no atraso da tecnologia global

No próximo dia 17/06 (terça-feira), o estrategista digital Juliano Kimura prestará depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito da Íris, instaurada na Câmara Municipal de São Paulo para investigar a atuação da empresa Tools for Humanity, responsável pelo projeto World ID.
A convocação ocorre em meio a debates acalorados sobre o uso de dados biométricos em troca de compensações financeiras — uma prática que, para muitos, levanta questionamentos éticos, técnicos e jurídicos.
Segundo Kimura, que será ouvido como testemunha, a CPI da Íris representa “a mais importante já realizada sobre internet no Brasil”. O motivo, explica ele, está na profundidade e no impacto potencial do tema:
“Estamos falando de uma tecnologia que propõe uma forma de comprovar que alguém é um ser humano único no ambiente digital — algo essencial diante da ascensão dos deepfakes, bots e contas falsas”.
O que está em jogo
A CPI da Íris foi proposta pela vereadora Janaina Paschoal (PRTB) após a instalação de cabines da Worldcoin em pontos públicos da capital, onde cidadãos recebiam criptomoedas em troca do escaneamento da íris. A comissão busca entender de onde vem o financiamento dessas operações, por que os dados são armazenados fora do país e quais são os objetivos de fato da iniciativa.
Kimura, que atuou como consultor da Tools for Humanity em etapas iniciais do projeto no Brasil, afirma que o país está diante de uma encruzilhada. “A decisão que for tomada agora pode colocar o país na vanguarda ou no atraso tecnológico. Se houver desinformação ou julgamento precipitado, poderemos criminalizar uma solução que pode ser essencial no futuro próximo”.
Identidade digital e soberania
Na avaliação do especialista, a proposta de valor da World ID — criar uma identidade digital única, à prova de fraudes — pode revolucionar a governança, os programas sociais e os sistemas de autenticação. “Desenvolvemos uma aplicação capaz de distribuir cestas básicas com base em verificação de unicidade. Isso garante que cada cesta chegue a uma pessoa real, sem desvios ou duplicidade”, exemplifica.
Essa validação da “humanidade digital”, segundo Kimura, pode ajudar o Brasil a combater fraudes no Bolsa Família, contas falsas em redes sociais e manipulações eleitorais baseadas em perfis automatizados. “Não se trata de defender uma empresa. Trata-se de entender o potencial de transformação dessa tecnologia para um país que precisa de transparência e eficiência”.
Do pioneirismo à repressão?
Kimura alerta para o risco de uma regulação mal planejada. “Se formos excessivamente punitivos ou burocráticos, podemos desestimular startups e levar nossos talentos para fora do país”, diz. Segundo ele, países como Alemanha e Estados Unidos já avançam na discussão de regulação da biometria, enquanto o Brasil ainda carece de uma política integrada de fomento, capacitação e debate público.
“O que falta ao Brasil não é legislação, mas clareza de propósito”, afirma. “Temos o Marco Civil da Internet, temos a LGPD, mas ainda agimos de forma reativa. A CPI pode ser um marco de maturidade, se for conduzida com escuta técnica e pluralidade”.
Sobre o especialista
Juliano Kimura, 45 anos, tem 20 anos de experiência no setor de tecnologia e inovação digital. Foi palestrante do Facebook Brasil, eleito duas vezes o melhor profissional de redes sociais, melhor agência de inovação digital, dois prêmios no Social Media Week Awards e integra atualmente o Comitê de Tecnologia e Inovação da OAB-SP. É também embaixador do iColab, instituto dedicado à pesquisa em blockchain, e possui certificação em Transformação Digital pelo MIT.
Durante o lançamento da Worldcoin, projeto que atualmente responde pelo nome de World — criado por Sam Altman, CEO da OpenAI — no Brasil, Kimura atuou como community specialist por meio de um contrato de consultoria. Segundo ele, sua contribuição à CPI será técnica e educativa: “Meu papel é esclarecer como essa tecnologia funciona e por que ela deve ser debatida com base em evidências, não em narrativas alarmistas”.
Um debate que vai além da tecnologia
“Essa CPI não é sobre escanear íris. É sobre o futuro do Brasil na economia digital. Podemos decidir se seremos consumidores passivos de tecnologia estrangeira ou se vamos liderar soluções para os desafios da era pós-IA. Está em jogo a soberania digital do país.”
Para o especialista, o caminho é o diálogo. Ele defende que a comissão promova audiências com universidades, startups, ONGs e comunidades vulneráveis — as mais impactadas por tecnologias emergentes e pelas políticas públicas que possam nascer dessa investigação.
“Se conduzida com seriedade, essa CPI pode ser um marco histórico — não de criminalização da inovação, mas de aprendizado coletivo sobre o que significa ser humano na era da inteligência artificial”, encerra.
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